Pesquisa internacional inédita aponta nove tendências globais para o futuro dos museus

Em uma era de distrações e sobrecarga digital, o que pode tornar os museus atrativos para públicos amplos e diversificados? Como museus podem construir relacionamentos fortes e duradouros com diferentes perfis de público, desde o visitante clássico até o hiperconectado? A pesquisa “O poder do público: tendências globais para o futuro dos museus”, lançada hoje em Futuros – Arte e Tecnologia, responde a estas e outras perguntas. Para conhecer a pesquisa completa, clique aqui.

O estudo inédito ouviu especialistas brasileiros e estrangeiros ligados ao universo de museus, centros culturais e festivais, que compartilharam suas reflexões sobre o atual cenário museológico e as projeções para os próximos anos. Realizado pelo Instituto Oi Futuro, gestor do Futuros, em parceria com o Grupo Consumoteca e apoio do British Council, teve como objetivo investigar a relação entre o público e os museus, que vem se transformando mesmo com o retorno integral das atividades presenciais.

“Esta linha de pesquisa nasceu em 2017 a partir das nossas perguntas a respeito da evolução do nosso museu, o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades. O Musehum é único porque coabita um centro cultural, o Futuros – Arte e Tecnologia, e também porque concilia um acervo histórico, desde o século XIX, e um acervo vivo das tecnologias de comunicação que estão mudando nossas vidas e nossas relações a cada minuto”, afirma Carla Uller, gerente executiva de Programas, Projetos e Comunicação do Oi Futuro.

Um dos principais desafios mapeados foi justamente a dificuldade de museus e centros culturais em se adequarem à “era do protagonismo”, que exigem que estes espaços repensem a jornada de seus visitantes e incorporem novas experiências culturais, com o público no centro. “Não cabe mais a visão ‘topdown’ de só trazer curadorias e dizer ‘venham ver isso porque isso é importante’, a relevância de um conteúdo deve ser entendida em seu contexto social. O museu tem que incentivar que o público se aproprie do conteúdo, estabelecendo uma relação com a comunidade em que ela se sinta parte do museu: ‘a gente tá cocriando, tá sendo coautor de uma exposição, de uma pesquisa’, isso é essencial”, aponta Marlus Araújo, fundador do MUSEU.XYZ, ouvido na pesquisa ao lado de representantes do Science Museum de Londres, The Cooler Lumpur da Malásia e Pinacoteca de São Paulo, entre outros.

A pesquisa identificou que atualmente o público brasileiro se divide em quatro grupos, cada um com uma característica comportamental diferente em relação aos museus. O primeiro é composto pelos desinteressados: aqueles que preferem consumir arte e cultura de dentro de casa e perderam o interesse pelos museus. O segundo são os escapistas, que até frequentam museus quando há experiências sensoriais que geram uma sensação de escape, mas no geral preferem realizar atividades ao ar livre.  O terceiro grupo é formado pelos tradicionais, pessoas que adoram museus, continuam frequentando-os na mesma frequência de antes da pandemia e os consideram espaços para uma experiência clássica, contemplativa e reflexiva. Por último, há os topa-tudo, que se engajam na programação cultural da cidade e veem arte e lazer como coisas integradas: acreditam que a cidade é um museu a céu aberto.  

NOVAS TENDÊNCIAS PARA O FUTURO DOS MUSEUS

Para fortalecer a relação entre museus e os diferentes públicos, a pesquisa destaca nove tendências globais para o futuro dos museus:

1) “Museu de todas as tribos”: é aquele que traz em sua programação diferentes tipos de atividades, formatos e linguagens, atraindo um público eclético e se fundamentando como um espaço diversificado culturalmente. A proposta é que o aparato proponha atividades integrativas em variadas linguagens que atraiam novos públicos aos museus, como cafés da manhã, DJs, contação de histórias, shows etc. 

2) “Museu de extra-muros”: é o “que não tem paredes”, se conecta com a comunidade do entorno de tal forma que a cidade inteira vive palco de exposições, shows, e atividades integrativas. Para isso, os museus devem dialogar com a comunidade do entorno para mapear e abraçar os locais de significado para eles, adotando praças e parques públicos e promovendo ações externas. 

3) “Museu das sensações”: proporciona experiências sinestésicas, completas e que possibilitam uma reconexão do visitante consigo mesmo, com seu corpo e suas sensações. Aqui, mais importante do que o conteúdo “aprendido” é a forma como ele afeta o visitante. 

4) “Museu figital”: é aquele que traz experiências virtuais e tecnológicas únicas para dentro dos espaços físicos, aliando o melhor do mundo digital com o melhor dos aparatos museais. A proposta é atrair para o espaço físico um público interessado pela linguagem digital. 

5) “Meta museu”: entra na casa das pessoas. O espaço já nasce virtual, acessível de qualquer dispositivo, e visa proporcionar experiências gamificadas e atrativas para públicos mais digitalizados.

6) “Museu da história ampliada”: é aquele que se dedica a contar a História a partir de

vozes não-hegemônicas, revelando novas perspectivas sobre antigos assuntos. A ideia é que o museu atue, junto à comunidade, como um local de escuta e reverberação de novas vozes mais plurais. 

7) “Museu Cápsula Itinerante”: é o que vai até o seu público, levando exposições e experiências únicas para locais afastados, descentralizando a oferta cultural. São iniciativas poderosas de democratização do acesso à cultura.

8) “Museu Insone”: abre as suas portas em horários não convencionais, proporcionando um outro tipo de relação com seus espaços. A proposta é aumentar o horário de funcionamento para democratizar e expandir o acesso aos museus e centros culturais, atraindo públicos que normalmente não podem visitá-los em horário comercial.

9) “Museu do Backstage”: se propõe não apenas a mostrar o resultado final das obras, mas que convida o espectador a testemunhar e participar dos processos.

 

 

 

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