
Nem toda revolta se faz no grito: algumas se fazem na música, no afeto e na resistência. É desse impulso que nasce ‘Ressonâncias – Revoltas Silenciosas’, espetáculo que desembarca no Futuros – Arte e Tecnologia de 5 a 7 de dezembro. Criado pelo músico, ator e diretor Yure Romão — que chega ao Rio depois de passar por Salvador, França e Caribe — a obra atravessa idiomas, ritmos e territórios para revelar algo que muitas vezes acontece à sombra: as revoltas silenciosas de mulheres brasileiras que migraram para a França como trabalhadoras domésticas nos anos 2000.
Mais do que um espetáculo teatral, ‘Ressonâncias’ é uma travessia sensorial. Com músicas em português, francês e crioulo das Antilhas — inspiradas nos bailes caribenhos dos anos 1970 e na musicalidade afro-brasileira — o público embarca em uma narrativa conduzida por uma contadora de histórias, que costura relatos reais, memórias de migração e gestos cotidianos de resistência. O resultado é uma experiência íntima e coletiva ao mesmo tempo: uma escuta que mobiliza, uma dança que ativa, uma reflexão que reverbera.
A dramaturgia, criada por Yure Romão ao lado de Ana Laura Nascimento, Estelle Coppolani, Talita Felício e Kayode Encarnação, parte do encontro com mulheres brasileiras migrantes que confiaram suas histórias à arte. Histórias de trabalho doméstico, afeto, desigualdade e pertencimento. Aqui, esses relatos se transformam em poesia cênica, ampliando discussões urgentes sobre cuidado, poder, gênero e raça.
“Ressonâncias é uma travessia entre territórios, línguas e memórias. É uma escuta e amplificação das vozes que ecoam nos corpos e nas histórias dessas mulheres. Suas revoltas são silenciosas, mas profundamente transformadoras”, afirma Yure Romão. Para Ana Laura Nascimento, coautora e contadora de histórias, o espetáculo “é deslocar o olhar da dor para os caminhos que inventamos para suportar — e para nos darmos suporte — em comunidade. É celebrar as vitórias que tentam nomear como pequenas, mas que, em nós, são expansões, são monumentos”, afirma.
A obra carrega ainda referências literárias importantes, como o diálogo com Cartas a uma Negra (1978), da autora martinicana Françoise Ega, criando um fio que conecta artistas e mulheres brasileiras migrantes que confiaram suas histórias pessoais à arte como forma de memória e justiça simbólica.
No Futuros, ‘Ressonâncias’ não chega só como espetáculo: integra a programação oficial do Ano da França no Brasil 2025, uma realização do Instituto Francês, e reconhecida pela Fundação Internacional para a Memória da Escravidão (FME) e se desdobra em ações especiais com pesquisadoras, propondo diálogos sobre políticas públicas, direitos das trabalhadoras domésticas e experiências de deslocamento que moldam o país. É arte como memória, mas também como gesto político.
Para Victor D’Almeida, gerente de cultura do Instituto Futuros, fechar a temporada teatral de 2025 com essa produção confirma a intenção do centro cultural de promover narrativas que dialogam com questões sociais urgentes.“Abrangendo diversas nacionalidades em cena, ‘Ressonâncias’ reforça o compromisso do nosso centro cultural em apresentar narrativas de impacto social e sobre pessoas historicamente silenciadas, explorando, por meio da arte e da comunicação, temas e questões reais que se entrelaçam com os tempos atuais”, destaca.
Ressonâncias – Revoltas Silenciosas
De 05 a 07 de dezembro, de sexta-feira a domingo, sempre às 19h
Ingressos: R$ 30 (Meia-entrada) | R$ 39,00 (desconto GIRO CARD) | R$ 60 (Inteira)
Ingressos disponíveis na Sympla – clique aqui
Teatro Futuros – Futuros Arte e Tecnologia
Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo, Rio de Janeiro – RJ
Duração: 90 minutos