A partir de 9 de outubro, o Futuros – Arte e Tecnologia recebe a exposição Kwir, Nou Éxist: Nós Queer Existimos, trabalho do casal de fotógrafos Raya Martigny e Édouard Richard que retrata a comunidade LGBTQIAPN+ e crioula da Ilha da Reunião, território francês localizado no Oceano Índico. A mostra, que já passou por Paris, incluindo o Museu do Louvre, e pela própria ilha, poderá ser visitada gratuitamente até 9 de novembro, de quarta a domingo, das 11h às 20h.
Reunindo cerca de 80 fotografias, a exposição convida o público a mergulhar em narrativas de resistência, autoafirmação e pertencimento. Essa afirmação também se reflete na própria língua: o termo Kwir, que traduz queer para a língua crioula da Ilha da Reunião, passou a integrar recentemente o vocabulário local, em sintonia com o marco histórico da primeira Parada LGBTQIAPN+ realizada no território em 2021.
A trajetória de Raya Martigny ajuda a entender a força desse projeto. Aos 16 anos, deixou sua terra natal em busca de liberdade e reconhecimento em Paris. Foi lá que conheceu Édouard Richard, parceiro de vida e de criação artística. Oito anos depois, os dois retornaram à ilha e encontraram uma juventude queer mais autoafirmativa e empoderada. Dessa vivência nasceu a vontade de registrar e celebrar a comunidade crioula LGBTQIAPN+, resultando na exposição.

“Como jovem queer, decidi sair de casa aos 16. Não via ninguém como eu ao meu redor, ninguém em quem pudesse me espelhar. Queria conhecer o mundo, me conhecer. E, na época, não havia espaço para isso lá. Quero mostrar a essa juventude que ela tem valor. Que não é preciso necessariamente partir para se construir. O importante é ter escolha — de ficar ou ir — mas com consciência, com confiança. Esse projeto nasceu desse desejo. Juntes, eu e meu parceiro e fotógrafo, Édouard, construímos um trabalho de memória e celebração através da fotografia e de arquivos, desde os anos 1980 até hoje”, conta Raya.
O fotógrafo e documentarista Édouard, destaca a dimensão histórica e política das imagens: “Nosso trabalho não é fotojornalismo, mas arte. É um trabalho artístico que também conta uma história importante”. Ao reunir essas narrativas visuais, as fotografias convidam a refletir sobre as marcas do colonialismo e da escravidão na Ilha da Reunião, território africano que segue administrado pela Europa e cuja história permanece atravessada por tensões e resistências.
Para Carla Uller, gerente executiva de Programas, Projetos e Comunicação do Instituto Futuros, a exposição dialoga com questões fundamentais tanto no Brasil quanto na Ilha da Reunião.“O Futuros – Arte e Tecnologia mais uma vez abre suas portas para pensar o presente e imaginar o amanhã. A exposição atravessa tempos e histórias, explorando colonialismo, escravidão, migração e diversidade — temas que também aqui no Brasil, fundamentaram a construção de nossas sociedades. Uma exposição que afirma: nós existimos, resistimos e transformamos o mundo”, afirma.
A mostra no Brasil é fruto de uma parceria entre a produtora francesa Elyane Prod, de Alban Sénault, e a Debê Produções, do produtor e cineasta carioca Marcio Debellian. Depois do Rio, a exposição segue para São Paulo, onde ocupará o Museu da Imagem e do Som (MIS), entre 13 e 23 de novembro, durante o festival MixBrasil. O projeto integra o calendário do Ano Cultural Brasil-França 2025, com República Francesa, Institut Français e Instituto Guimarães Rosa, e tem patrocínio de Jean-Paul Gaultier & Requeer e Petrobras, em uma realização do Governo Federal do Brasil/Lei de Incentivo à Cultura.
KWIR, NOU ÉXIST: NÓS QUEER EXISTIMOS
De 9 de outubro a 9 de novembro
Horário: quarta a domingo, de 11h às 20h
Entrada franca